Accountex é um congresso de tecnologia contábil mundial e independente, com uma edição anual em Londres e outra em Boston, onde na semana passada, de 6 a 8 de setembro, tive a boa experiência de participar. Foram três dias super intensos, pois somando todas as atividades, ocorreram mais de 110 horas de instruções e palestras, mas vou tentar aqui passar uma impressão geral e, principalmente, de rápida leitura para vocês. Nessas poucas horas desde o fim do evento já conversei com vários contadores brasileiros e em função das perguntas que me foram feitas, dividi este artigo em 4 tópicos diferentes:
1. Formato do congresso: USA x Brasil
Quem costuma frequentar os eventos contábeis no Brasil se surpreende, já que o formato é um pouco diferente. O evento abre 08h00 com um café da manhã no qual os organizadores dão as boas vindas e explicam como será o evento. Não tem cerimônia de abertura, é pau na máquina, direto ao assunto!
Logo às 08h30 do primeiro dia já iniciam as sessões de palestras em 6 salas diferentes e simultâneas, com 6 diferentes temas. Houve um dia que a programação começou pontualmente às 07h30. As palestras têm no máximo 1 hora de duração (incluindo perguntas e respostas) e tudo começa e termina milimetricamente no horário marcado. A eficiência é máxima, tendo relativamente poucas pessoas envolvidas na organização, já que tudo é self-service – desde o registro na chegada, pegar a sua sacola com folders dos patrocinadores até as refeições e bebidas. Ninguém tem vergonha de usar pratos, talheres e copos descartáveis. Bem ao estilo americano: prático, eficiente, pontual, objetivo e, com muita qualidade.
Marcante foi a presença de jovens de mais de 60 anos trabalhando nas atividades de apoio e orientação. Ninguém tem medo de trabalhar, nem de acordar cedo.
A feira de negócios foi outro ponto alto: stands simples, reutilizáveis. Nenhum expositor gasta milhares de dólares em materiais que depois irão para o lixo. Por outro lado, brindes à vontade e de altíssima qualidade. Uma solução inteligente foram os salões de demonstrações coletivas de soluções dos expositores. Impecável!
Temos uma hora de almoço e logo depois voltamos ao mesmo formato, com injeção de conteúdo na veia. As palestras principais, ou “Keynote Speakers”, acontecem na mesma sala do almoço ou em um outro auditório maior, mas sempre no tic do relógio.
2. Conteúdo e qualidade das palestras
Assim como nos principais eventos brasileiros, a parte técnica contábil não é mais a estrela principal. As palestras se concentraram, em ordem de intensidade, nos seguintes itens principais:
- Reinvenção do negócio: qual o novo papel do contador em um mundo digital, ou seja, como ir além da simples governança fiscal, agregar real valor ao negócio e ser mais relevante para seus clientes; como mudar o posicionamento de mercado de sua empresa contábil e como lidar com todos os problemas causados por esse processo de transformação; segmentação; customer experience; propósito; mindset empreendedor. Uma das palestras mais concorridas sobre este assunto foi a “The Million Dollar Bookkeeper”, por Melaine Power. Ela ressaltou justamente a segmentação, preço por valor, pacotes de serviços e marketing.
Outra muito concorrida foi “Mindset Determines Growth… disruption accelerates your thinking!” por L. Gary Boomer. Ele mostrou a evolução do mind set do profissional da contabilidade, resumido pelos dois slides abaixo:
- Tecnologia: como a automação, a integração de dados, Block Chain e a Inteligência Artificial estão mudando o dia a dia dos contadores; como escolher e usar todo o potencial das melhores ferramentas disponíveis do mercado; como ajudar o seu cliente a escolher um sistema de gestão.
- Precificação: como cobrar pelo valor agregado ao cliente e não pelas horas trabalhadas; a importância da criação de pacotes de serviços (P, M, G) para atender clientes diferentes com serviços diferentes; o resumo foi: precifique o cliente não o serviço.
- Marketing: uso de mídias sociais, marketing digital e tradicional para buscar clientes e crescer o negócio contábil; como se especializar e criar ofertas inovadoras para seus clientes. Uma das palestras mais interessantes sobre isso foi a “Identity Crisis: Redefining Yourself and Your Practice” por Rachel Fisch. Resumidamente, o roteiro para se reinventar é: defina seu modelo de negócios, estabeleça sua marca pessoal e identifique seus clientes ideais (nicho).
Sobre a qualidade dos assuntos abordados e dos palestrantes, deu de tudo. Alguns eu quis aplaudir de pé, enquanto outros, não via a hora de acabar. Mas voltei com a certeza de que nossos principais eventos no Brasil estão bastante alinhados em conteúdo e, principalmente, muito bons em qualidade quando comparados ao americano.
3. Contador Brasileiro X Contador Americano
Essa foi a principal pergunta que me foi feita pelos brasileiros: como estamos em relação aos contadores americanos? Estamos muito atrás deles? Essa resposta eu não trago apenas baseada nos conteúdos ministrados, mas também da reação do público e das perguntas feitas pelos contadores presentes aos palestrantes.
Minha percepção é que estamos passando pelo exato mesmo desafio de mudança no modelo de negócio das empresas contábeis, tanto no Brasil como nos Estados Unidos: deixar de ser um contador focado em compliance fiscal e focar em agregar valor ao seu cliente, e assim conseguir crescer. Eles estão à nossa frente em alguns critérios e nós estamos à frente deles em outros, mas na média, podemos dizer que contadores americanos e brasileiros estão na mesma página.
Vale lembrar que na terra do Tio Sam não é obrigatório que uma empresa tenha um contador certificado, ou CPA como eles chamam. As exigências são tão mais simples que em muitos casos o próprio empresário faz sua contabilidade, sua folha e seus formulários de impostos. Talvez por isso não tenha sido citada, sequer uma vez (ao menos nas palestras que assisti), a tal da “Contabilidade Online” (aliás, se você ainda não baixou o e-book “Contabilidade Digital x Contabilidade Online”, que escrevemos, clique aqui e baixe agora), que gera tanto desconforto por aqui.
Edit (13/09/2017 – 10h59):
Após a publicação deste artigo, Roberto Dias Duarte me lembrou que em uma das palestras assistidas por ele, foi falado que o que aqui chamamos de “Contabilidade Online”, lá é substituído pela “Contabilidade DIY” (contabilidade faça você mesmo, em tradução livre).
Assista abaixo um breve vídeo do Roberto Dias Duarte e Cristiane Andrade (do escritório Confiare, RJ) sobre suas percepções sobre o evento:
4. Feira de negócios e fornecedores de tecnologia
Aqui é onde mais se distancia os Estados Unidos do Brasil, mas não porque eles sejam melhores do que nós. É simplesmente diferente. O ambiente legal de lá permite que os negócios sejam feitos de forma bem mais simples e descomplicada do que no Brasil, e a tecnologia acaba se aproveitando e refletindo essas facilidades. As soluções mais comuns em exposição foram:
- ERP para os clientes dos contadores
- Aplicativos de gestão de pagamentos
- Gestão de processos para serviços contábeis
- Controle de gastos e despesas
- Digitalização de documentos
- Time sheet e controle de serviços
- Aplicativos de auditoria e gestão de riscos
- Folha, RH e benefícios
- EDI, CRM e BI
Confira um breve giro pela Feira de Negócios da Accountex USA 2017:
Fiquei bastante animado em ver que o que estamos fazendo aqui no Brasil com o Omie, funcionando integrado a diversos Apps específicos de nosso marketplace (ou loja de aplicativos) é o mesmo caminho que está sendo seguido nos Estados Unidos e pelo resto do mundo. Só que para nós conseguirmos o mesmo nível de integração que eles têm, temos que dar nó em pingo d’água por causa da legislação, o que é um ponto a favor das empresas de tecnologia do Brasil – estamos bem. 🙂
Confira abaixo mais algumas fotos do evento:
Fundador e CEO da Omie, a plataforma número um de gestão (ERP) para pequenas e médias empresas do Brasil.
Com mais de 20 anos de experiência na área. Lombardo é aficionado por inovação, vendas e marketing. O executivo é um dos pioneiros do ecossistema de softwares do país e estruturou a empresa com o propósito de diminuir o gap de eficiência das PMEs, transformando a forma de empreender no país e permitindo que elas vivam todo seu pleno potencial, oferecendo software, serviços financeiros e educação, 100% na nuvem.
Em nove anos, a scale-up tornou-se líder isolada no segmento, com mais de 27 mil escritórios contábeis parceiros e mais de 125 mil clientes em todo país. A empresa também possui um modelo de franquias de muito sucesso com mais de 150 unidades distribuídas pelo Brasil, formando a maior rede do setor.
Nós acreditamos que o futuro do nosso país está nas pequenas empresas. E acreditamos que fazer um sistema de gestão simples, intuitivo e eficiente, com um atendimento extraordinário, é a nossa forma de contribuir para a prosperidade desses empreendedores e, acima de tudo, do Brasil!