Você já ouviu algum empresário falar: “minha empresa não dá lucro nem prejuízo”?
Como contador, já ouvi essa frase em diversas situações. Também já ouvi empresários relatarem que conseguiram aumentar as vendas de suas empresas, mas que não conseguem sair do prejuízo, ou se queixarem de que reduziram suas despesas e ainda assim não conseguem pagar as contas.
Sabemos que em sua maioria os gestores e empreendedores estão sempre focados em aumentar cada vez mais os números de vendas dos seus negócios, mas que não se preocupam em encontrar qual o valor de venda mínima que a empresa precisa alcançar para não ficar inadimplente com suas obrigações, ou para não precisarem contrair empréstimos na intenção de sanar dívidas de custos meramente operacionais.
A realidade é que muitas empresas iniciam suas operações e permanecem muito tempo sem utilizar ferramentas que indicam essa quantidade mínima de vendas de produtos e/ou serviços necessárias para evitar o indesejável prejuízo.
E aí eu pergunto: você já ouviu o termo “a empresa está se pagando”? Essa é uma expressão frequentemente utilizada por empresários que não estão obtendo lucro em seus negócios, mas que também não estão operando no prejuízo. Eu diria que essa é uma expressão que os empresários inconscientemente utilizam para substituir o termo Ponto de Equilíbrio Contábil.
O que é ponto de equilíbrio contábil?
Mas, afinal de contas, o que é Ponto de Equilíbrio Contábil? Trata-se do ponto de lucro e prejuízo zero, ou melhor, acontece quando a empresa alcança um nível de vendas que liquida todos os custos operacionais e financeiros, mas que não obtém lucro, nem prejuízo.
Encontrar o ponto de equilíbrio é responder às seguintes perguntas: “quanto eu tenho que vender para não ter prejuízo? Quanto eu tenho que vender para ter lucro? “ .
Tentando deixar ainda mais claro, eu diria que o Ponto de Equilíbrio Contábil é o indicador que todo gestor deve encontrar para identificar qual a receita mínima mensal que a sua empresa precisa alcançar para liquidar as contas.
É importante entender todos os benefícios que o empresário pode usufruir ao conhecer qual o ponto de equilíbrio da sua empresa. Conhecer essa variável pode determinar, por exemplo, as metas mínimas que a organização deve atingir para se manter sem prejuízo, o que pode ser uma das soluções seguras para a continuidade operacional da mesma.
E eu reforço mais, conhecer o Ponto de Equilíbrio Contábil da empresa ou o tão mencionado Break Even Point – BEP, não só abre visão para que o gestor sinta necessidade de aumentar suas vendas, mas também possibilita uma análise melhor sobre as suas despesas operacionais e seus custos fixos, que muitas vezes estão em desordem.
Negligenciar a importância de entender esse tipo de variável, por conta do imediatismo de apenas integralizar um capital de giro que pode financiar prejuízos sucessivos, também é um fator que pode comprometer a continuidade da empresa, já que esse tipo de fôlego tem limite.
Até aqui a gente já conseguiu entender, de forma conceitual, do que se trata o Ponto de Equilíbrio, o chamado Break Even Point, ou apenas BEP. Mas você quer saber mais sobre qual a importância que essa variável pode causar na empresa?
A importância do ponto de equilíbrio contábil
A importância do Ponto de Equilíbrio Contábil vai além do que podemos, de forma imediata, imaginar. Não é apenas obter a informação do quanto a empresa precisa vender para ter prejuízo e lucratividade zero, mas ter acesso a variáveis que possibilitam que o negócio esteja no mercado de forma mais competitiva, mantendo, por exemplo, uma boa margem de lucro.
Sabemos que uma boa gestão é determinante para o sucesso de um negócio e que um bom gestor precisa estar sempre atento a variáveis para otimizar os resultados da empresa.
Pensar em estratégias de projeções de vendas baseando-se no seu Ponto de Equilíbrio Contábil é uma forma eficaz que a empresa tem para garantir que suas operações tenham continuidade com o respaldo de uma boa saúde financeira.
Um outro método eficiente que o gestor pode investir atenção é obter conhecimento sobre o ticket médio necessário para o negócio. Entender a força de vendas da empresa e garantir um ticket médio necessário para o cumprimento das suas obrigações financeiras, é também uma boa solução para manter a operação segura.
A relação entre ponto de equilíbrio contábil, econômico e financeiro
Antes de falar um pouco mais sobre o BEP – Break Even Point, é importante deixar registrado nesse artigo que existe uma diferença entre os pontos de equilíbrio Contábil, Financeiro e Econômico (sobre os quais muito se fala e muito se confunde). O uso que se faz dessas três metodologias pode definir passos importantes no controle contábil e financeiro de qualquer negócio.
Entre essas três modalidades, eu acredito que o Ponto de Equilíbrio Contábil seja o mais utilizado atualmente, visto que ele engloba mais informações de fluxo da empresa para fins de cálculos. É através do Contábil que a análise se torna mais real e por isso consegue-se fazer projeções mais verídicas de futuro.
O Ponto de Equilíbrio Financeiro ignora despesas que não causaram desembolso de dinheiro do caixa da empresa. Por isso trata-se de uma variável que aponta o mínimo necessário para garantir a saúde financeira do negócio.
Já o Ponto de Equilíbrio Econômico traz uma complexidade maior, porque se trata de uma variável que aponta em qual momento a empresa consegue liquidar as suas despesas e alcançar uma remuneração que seja equivalente ao retorno que o investidor conseguiria, caso tivesse aplicado o capital no mercado.
Agora que sabemos mais sobre o que é o Break Even Point e que já estamos mais próximos de aprender a como calcular o ponto de equilíbrio e a interpretar os resultados obtidos, precisamos esclarecer as diferenças entre custos fixos e custos variáveis, para que a nossa experiência e aprendizado durante a demonstração de cálculos seja mais proveitosa.
Custos fixos X Custos variáveis
Bem, Custos Fixos são os custos permanentes e previsíveis, ou seja, que não dependem do volume de vendas, produções e/ou prestações de serviços. São custos, na maioria das vezes, recorrentes e integrantes na estrutura da empresa e são menos suscetíveis a variações de acordo com produções e vendas.
Como exemplo de custos fixos, podemos citar o aluguel do imóvel onde a empresa está localizada, arrendamento de terreno, materiais de limpeza, planos de telefonia, internet, entre outros.
Já os Custos Variáveis são gastos que a empresa tem para produzir ou prestar o serviço. Ou melhor, são os custos diretamente necessários para que a empresa obtenha a sua receita.
Para o gestor, conhecer os custos variáveis da sua empresa é ter a possibilidade de trazer economia a sua produção. Entender como funciona o processo produtivo do seu negócio ou quais as despesas necessárias para a prestação do serviço, possibilita que se busque alternativas econômicas, como, por exemplo, encontrar fornecedores que comercializem insumos por menores preços.
Como exemplos de custos variáveis, podemos citar itens como matéria prima, embalagens, mão de obra, entre outros. Perceba com esses exemplos que os custos variáveis são diretamente proporcionais a receita da empresa, pois quanto mais se vende o produto acabado, mais custos variáveis a empresa terá.
É importante também deixar claro que não existe uma fórmula exata que determine todos os custos fixos e todos os custos variáveis, já que essa classificação também vai depender do tipo de atividade econômica que a empresa desempenha. Mas, se você tiver conhecimento sobre o conceito, ficará mais fácil classificar.
No entanto, como contador, preciso lembrar a você que para que o gestor tenha acesso a essas informações e para que o contador possa auxiliá-lo nessa construção de indicadores de desempenho, é muito importante que a empresa conte com um bom sistema de gestão que otimize os controles sobre as compras de mercadoria e/ou insumos, vendas de produtos, rotatividades de estoque e relatórios que demonstrem os custos fixos e variáveis.
Não existe possibilidade do contador e o gestor encontrarem índices que auxiliem o desenvolvimento da empresa se não houver uma comunicação com a contabilidade. Para isso e também para otimizar o processo, é muito importante que o gestor adquira um sistema gerador de informações que permita não apenas o cálculo do BEP, mas também a entrega de outros resultados para tomada de decisões.
Como o maior foco deste artigo é entender sobre BEP e também em como calcular e encontrar o ponto de equilíbrio contábil, nós vamos precisar esclarecer a diferença entre margem de contribuição e margem de segurança e quais as relações que essas margens têm com o Ponto de Equilíbrio ou Break Even Point e sua fórmula para cálculos.
O que é a margem de segurança e margem de contribuição?
A Margem de Contribuição é a mensuração do percentual que o produto ou serviço está contribuindo, com a sua venda, para o pagamento de custos fixos. É uma variável que fornece informações vitais para que o gestor identifique se a operação está sendo ou não viável para a empresa.
Em resumo e para deixar ainda mais claro, margem de contribuição é quanto o faturamento da empresa está contribuindo para que os custos fixos sejam liquidados. É um importante indicador de gestão empresarial. É a resposta para a seguinte pergunta que a grande maioria dos empreendedores tem: “Quais os produtos e/ou serviços são rentáveis na minha empresa? ”.
Por exemplo, a empresa vende um produto no valor de R$ 100,00 e tem um custo de R$ 50,00 para produzi-lo (custo variável), logo a margem de contribuição deste produto é de R$ 50,00, ou seja, o produto está contribuindo com R$ 50,00 para a liquidação dos custos fixos da empresa.
Já a margem de segurança é o valor de faturamento que ultrapassa o faturamento necessário para que se alcance o ponto de equilíbrio. É basicamente o valor da receita bruta que gera resultado acima do BEP – Break Even Point, ou seja, que gera lucro para a empresa.
A margem de segurança também pode ser utilizada como parâmetro para que o gestor tenha noção sobre quanto o faturamento da empresa pode cair sem que gere prejuízo. É mais um índice que entrega ao empresário informações vitais sobre gestão e que possibilita decisões estratégicas para o crescimento do seu negócio.
Após as definições acima sobre Ponto de Equilíbrio Contábil, Break Even Point, Custos Fixos, Custos Variáveis, Margem de Contribuição e Margem de Segurança, podemos agora transitar de forma mais fundamentada nos cálculos que definem qual o ponto de equilíbrio de uma empresa.
Como calcular e encontrar o ponto de equilíbrio contábil?
Para saber como calcular o ponto de equilíbrio contábil você precisa obter alguns dados e separá-los como ingredientes de uma receita. Esses ingredientes são números que utilizaremos na fórmula do Break Even Point e é exatamente por isso que eu sugiro que você separe o cálculo por etapas.
A fórmula de ponto de equilíbrio é: Ponto de Equilíbrio = Custos e Despesas Fixas / Margem de Contribuição , a partir dela você conseguirá identificar que serão necessários outros cálculos onde os resultados servirão de base para encontrarmos o BEP.
A etapa 1 eu identifico como o momento da coleta de dados. É nessa etapa que precisamos identificar os valores que correspondem ao faturamento mensal, aos custos fixos e também os valores que correspondem aos custos variáveis, pois precisaremos deles para as etapas seguintes. É nesse momento que o sistema de gestão empresarial e a contabilidade entregarão resultados.
A etapa 2 é o momento de cálculos, onde encontraremos a Margem de Contribuição, que será um ingrediente para calcularmos o Ponto de Equilíbrio Contábil. Para esse cálculo precisaremos de alguns dados coletados na etapa 1, mais especificamente o faturamento mensal e os custos variáveis, onde aplicaremos na fórmula: MC = Faturamento – Custos Variáveis.
A etapa 3 é a etapa final para cálculo do Break Even Point, é onde os dados coletados nas etapas anteriores serão utilizados na fórmula do BEP: Ponto de Equilíbrio = Custos e Despesas Fixas / Margem de Contribuição.
Aqui eu trago um exemplo de cálculos para uma empresa que comercializa um único produto. Logo após a demonstração, faremos algumas interpretações sobre os resultados.
Etapa 1:
- Faturamento Mensal: R$ 100.000,00
- Custos Fixos: R$ 30.000,00
- Custos Variáveis: R$ 60.000,00
Etapa 2:
MC = Faturamento – Gastos Variáveis / Faturamento
MC = 100.000,00 – 60.000,00/100.000,00
MC = 0,4
Etapa 3:
Ponto de Equilíbrio Contábil = Custos e Despesas Fixas / Margem de Contribuição.
Ponto de Equilíbrio Contábil = 30.000 / 0,4
Ponto de Equilíbrio Contábil = 75.000,00
Ou seja, a empresa alcança o Ponto de Equilíbrio Contábil quando o seu faturamento alcança R$ 75.000,00.
Concluída a demonstração dos cálculos, é importante ressaltar algumas observações que podem ser interpretadas sobre o cenário acima:
Identificar que o faturamento da empresa está acima do ponto de equilíbrio contábil é um resultado positivo, isso aponta que a empresa está operando com margem de segurança.
Descobrir também que a empresa tem margem de segurança positiva sobre as suas operações, é importante para que o gestor perceba que dependendo da redução de faturamento, existe a possibilidade de a empresa continuar operando sem prejuízo.
Além disso, saber a margem de contribuição dos produtos que a empresa comercializa, por exemplo, permite que o gestor identifique o quanto é viável ou não a continuidade de produção.
Entender que quanto menor for a margem de contribuição, menos arriscado é o negócio para o empresário e que esses indicadores de desempenho entregam dados importantes para que o gestor invista em produtos que dão mais lucro e para que ele também saiba quais são os produtos apenas estratégicos e suportáveis pela empresa, de acordo com o BEP (aqueles que têm margem de contribuição negativa, mas são estratégicos para atrair clientes).
Para concluir, agora que sabemos o que é o ponto de Equilíbrio Contábil, como calculá-lo e a importância da margem de contribuição, não só como base para o cálculo do BEP, mas como indicador de gestão, fica claro que indicadores de desempenho tem a importante função de direcionar os melhores caminhos para as empresas e que, é de suma importância, o acompanhamento da contabilidade auxiliada a um excelente sistema de gestão empresarial.
Fabiano Azevedo, contador consultor, CEO e sócio do escritório Tática Contabilidade. Como palestrante, com conteúdo voltado para o mercado de contabilidade e empreendedorismo, desenvolve um trabalho de disseminação de conhecimento na intenção de ser um fator de soma na vida profissional das pessoas.