Sucessão… O que passa na sua cabeça quando você ouve este termo?

Uma coisa que raramente pensamos ao iniciar um novo negócio é algo chamado sucessão. Mas.... Sucessão não trata apenas da questão de transição de comando.
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Uma coisa que raramente pensamos ao iniciar um novo negócio é algo
chamado sucessão. E se em algum momento pensamos, em geral, associamos o
conceito a questão de “passagem de bastão” entre quem toca o negócio e quem irá
tocar quando este alguém se aposentar. Mas…. Sucessão não trata apenas da
questão de transição de comando. Para você entender o que significa isso vou
contar a história recente de um amigo meu, o Giba.

Giba sempre foi um empresário admirável. Possuía há quinze anos uma loja
de bebidas finas na região dos Jardins, porém nunca abusou da sua localização
em um bairro privilegiado da capital de São Paulo e sempre praticou bons
preços. Durante esse tempo todo eu o vi trocar, no máximo, dois funcionários. Todos
amavam trabalhar lá, era visível. Giba realmente conhecia seu produto e o seu
mercado, e sempre que eu ia visitá-lo para fazer umas compras acabávamos
abrindo uma garrafa. Você já viu alguém visitar um amigo que possui uma loja de
vinhos e literalmente levar uma garrafa para a loja? Isso acontecia não apenas
comigo, mas também com diversos outros clientes frequentes que curtiam
experimentar vinhos com ele. Entra crise e sai crise, Giba sempre conseguiu
sucesso em manter seu negócio próspero e fazer um lucro decente.

Há duas semanas eu recebi uma ligação inesperada dele: “Marcelão, da uma
passada aqui. Estou fechando a loja e liquidando tudo”. Chegando lá, encontrei
um homem de 50 e poucos anos e de mais de dois metros de altura chorando como
uma criança. “Giba, o que aconteceu?”, e ele respondeu “caí em um problema de
sucessão”.

O fato que originou a crise foi esse: quando ele abriu a loja, escolheu
um ponto onde anteriormente havia uma outra loja de bebidas. Para aproveitar o letreiro,
adotou como nome fantasia o nome da loja anterior, e contratou alguns dos
funcionários, pois todos foram demitidos regularmente da empresa anterior. Resumindo,
mesmo ramo, mesmo local físico, mesmo nome fantasia, e alguns funcionários em
comum com o dono anterior…

Duas semanas antes da minha visita, Giba acessou o site do seu banco e
teve uma desagradável surpresa: sua conta, que sempre era saudável, estava
negativa em 2,7 milhões em função de uma execução judicial on-line. Ligou para
o banco e a informação, que parecia mais uma falha de sistema, estava
confirmada: o dono da loja anterior não pagou seus impostos, foi parar na
dívida ativa e desapareceu do mapa. Na execução, devido aos indícios existentes
(principalmente local e funcionários) a empresa do Giba foi entendida como
sendo a sucessora da empresa anterior, se transformando imediatamente em
responsável pela dívida.

Eu perguntei: mas não há como recorrer, explicar que você não é na
verdade sucessor da empresa anterior? Não, respondeu triste. “Aqui em volta
existem vários tribunais, tenho muitos clientes que são juízes e
desembargadores. Eles olharam o caso a fundo e disseram: não há o que fazer”.
Chorei junto com o meu amigo, naquele mesmo local onde demos tantas risadas e
tanto celebramos a vida.

Uma das coisas que o Giba mais lamentou foi por nunca ter descontado
nada do plano de saúde de seus funcionários: “se eu tivesse descontado ao menos
5 Reais eles poderiam, nesse momento, manter o plano por mais alguns meses”. Como
eu disse, ele é um empresário excepcional, o tipo de cara bem-intencionado e
que se importa com a sua equipe.

Essa é uma lição aprendida da forma mais dura possível, mas fica o
aprendizado: pense no conceito de sucessão de um modo mais amplo – ele não diz
respeito apenas a transição de gestão; cuidado com o local onde você abre seu
negócio – descubra se houve um outro negócio no mesmo local, se esse negócio
ainda existe, se pagou seus funcionários, fornecedores e impostos (peça as
CNDs) e se está com o nome limpo na praça. Não se iluda com o aparente atalho
de assumir um local de movimento ou uma marca já conhecida, investigue. Isso
não se aplica apenas a pontos de comércio: se, por exemplo, você é uma empresa
de TI e alugou um andar onde anteriormente existia outra empresa de TI,
cuidado. Seja do que ramo sua empresa for, antes de se mudar, investigue a
fundo o antigo locatário, não corra o risco de ser pego na sucessão.

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